Será que a sua aparência tem impacto sobre a sua marca pessoal?

11 de junho de 2020

Julgamos o livro pela capa?

Vejo, com cada vez mais frequência, empresas mudarem suas orientações sobre os trajes de seus funcionários, tornando-as mais flexíveis e deixando todos mais à vontade.

É bem provável que essa tendência tenha se originado nas empresas de tecnologia do Vale do Silício, que permitem que seus empregados se vistam de forma mais despojada e descontraída, sendo que esses empregados, geralmente, possuem pouco ou nenhum contato com clientes.

Com o aparecimento da pandemia, no início deste ano, e a necessidade de as pessoas trabalharem em regime de home office, essa tendência se ampliou para as reuniões online, mediadas por tecnologia. Muitos profissionais participam dos encontros virtuais totalmente à vontade, sem o mínimo de cuidado com a aparência.

Sou especialista na Gestão de Serviços e professor de MBA há mais de 20 anos, ensinando conceitos, métodos e ferramentas práticas relacionados a este tema e mostrando aplicações no dia a dia corporativo e profissional.

Um dos três pilares importantes para a excelência em Serviços são as Evidências Físicas, que são tudo que o cliente percebe, com os seus sentidos, em relação ao Serviço. Vão desde instalações, aspectos ambientais (como temperatura, limpeza, aroma / cheiro etc.), componentes de projeto (estilo, decoração, cores, paisagismo etc.), aspectos sociais (clientes no ambiente do serviço e equipe), comunicação, até o preço.

Segundo o Professor Doutor Phillip Kotler, considerado o guru do Marketing, “como os serviços são intangíveis, todos os aspectos tangíveis – que incluem a aparência de quem presta o serviço – são especialmente importantes!”.[3] 

A relevância das evidências físicas se deve ao fato de nós, seres humanos, não dispormos de um sentido para avaliar o intangível. Então, de maneira inconsciente, usamos aquilo que percebemos para avaliar o que é intangível, ou seja, a qualidade do serviço.

A primeira impressão é a que fica

Vale lembrar que todos nós, profissionais, somos prestadores de serviços. Portanto, queiramos ou não, é inevitável que sejamos avaliados com base em nossa aparência.

Existem várias máximas em relação à aparência: “a primeira impressão é a que fica”; “nem sempre temos uma segunda chance de causar uma boa primeira impressão” etc.

Em seu artigo sobre o tempo em que as pessoas levam para um julgamento sobre outras – nos aspectos atratividade, simpatia, confiabilidade, competência e agressividade – a partir de primeiras impressões, Alexander Todorov e Janine Willis, da Universidade de Princeton, concluíram que o tempo para avaliação de outra pessoa varia de 100 ms. a 500 ms., e é feito de maneira intuitiva / inconsciente. [5]

O Professor Doutor Richard Daft, da Vanderbilt University, em seu livro “O Executivo e o Elefante”, cita que o nosso cérebro inconsciente categoriza as pessoas, formula estereótipos e faz julgamentos instantâneos, com base no registro de experiências anteriores. [1]

Some-se a isso, que nós, humanos, somos seres muito visuais. Segundo os neurocientistas, cerca de 33% do nosso cérebro é dedicado à visão, e este processa as imagens em uma velocidade incrível. Este é um dos motivos pelos quais costumamos dizer que “uma imagem vale por mil palavras”![4]

Tudo isso nos leva a concluir que a aparência realmente importa, independentemente de acharmos isso justo ou não, confortável ou não. Ela é usada pelos cérebros das pessoas, em encontros presenciais ou virtuais, para avaliar vários aspectos em relação a nós e às organizações que representamos, sobretudo a respeito de nossas competências e confiabilidade.

A tendência, mencionada no início deste artigo, de relaxarmos a atenção com a aparência pode ser boa para o nosso conforto pessoal, mas será que fortalece a nossa marca pessoal ou a marca da organização onde trabalhamos? Provavelmente, não!

Será que a sua aparência afeta a sua marca pessoal? E a da empresa que você representa?

Segundo a ex-executiva da Microsoft, Jenni Flinders, considerada Top 50 most influential e Top 100 most powerful women in the IT channel, “a primeira impressão é muito poderosa e impactante no mundo corporativo e contribui muito para o avanço na carreira, promoções e reconhecimentos”. Ela reforça que “em poucos segundos as pessoas chegam a conclusões sobre o que veem em relação a outras pessoas e a situações, e transformam suas percepções em opiniões”. [2]

É claro que não adianta uma aparência excelente em um profissional que não traz resultados. Mas o ponto aqui não é esse, e sim o quanto a primeira impressão impacta a sua marca pessoal.

Decida o que você quer ser, e seja!

A minha recomendação é a seguinte: cuide da sua aparência, para ela cuidar da sua marca pessoal. Não é necessário manter a aparência do Harvey Specter ou da Donna Paulsen, personagens marcantes da premiada série Suits (Netflix), mas sim prestar atenção para que a sua aparência seja consistente com a sua identidade e reforce a imagem que você quer projetar.

O que os participantes enxergarem de você em uma reunião (aparência, comunicação verbal e não-verbal, energia e comportamento), presencial ou online, é o que ficará registrado em seus cérebros por muito tempo e se tornará a sua avaliação em relação a VOCÊ.

Não se deixe levar por modismos de relaxamento da aparência, que parecem ser convenientes agora, porém mais adiante, podem lhe custar caro (ser preterido em promoções ou oportunidades, demora na evolução da sua carreira, exclusão de processos de seleção, entre outros).

Como lembra a consultora da Blueway e coaching de carreira Maria Cláudia Monteiro, “a sua imagem é percebida pelo outro antes de você começar a falar”.

Escolha a imagem que quer projetar e construa com cuidado a sua marca pessoal. Aproveite cada oportunidade, sobretudo as reuniões, presenciais ou online, os eventos, e as suas atividades do dia a dia para marcar presença e deixar uma lembrança positiva na mente das pessoas com as quais interagir.

E você? Sua aparência reforça a sua marca pessoal?

Marque, aqui nos comentários, alguém que você gostaria que lesse isso.

 

REFERÊNCIAS:

  1. DAFT, Richard. O Executivo e o Elefante. Editora Novo Conceito. 2013.
  2. FLINDERS Jenni. Own your personal brand | Jenni Flinders | TEDxBellevueCollege.     2017.
  3. KOTLER, Phillip. Administração de Marketing. 14a Edição. Pearson Education. 2012.
  4. PERUZZO, Marcelo. As três mentes do Neuromarketing. 2013
  5. TODOROV, Alexander e WILLIS, Janine. First impressions: Making up your mind after 100 milliseconds exposure to a face. Association of Psychological Science. 2006.