Sabe o que acontece quando “Maria vai com as outras”​? A gente acaba indo também!

14 de abril de 2020

Por Newton Rodrigues-Lima

Eu já escrevi dois artigos sobre esse tema (“Nós e o Efeito Manada” e “Outra forma de Efeito Manada sobre decisões em grupo”), entretanto existem mais situações em que podemos ser influenciados: pelo que vemosouvimos ou lemos.

Da mesma forma que os “risos enlatados” são frequentemente usados em programas “stand up comedy”, quadros cômicos, séries e filmes humorísticos etc., para nos estimular a rir também, há outras formas que podem nos persuadir a seguir a manada, e para as quais precisamos nos precaver, todas as vezes que aparecem. Alguns exemplos que exigem atenção são:

  • Depoimentos gravados em áudio, sem que se tenha certeza absoluta de sua autoria;
  • Pesquisas sobre um candidato apontando que ele é o mais votado, ou o mais detestado, quando o instituto de pesquisas não é totalmente confiável;
  • “Panelaços” sobre a rejeição a um candidato, com a possibilidade de serem forjados;
  • Manifestações nas ruas – pelo motivo que for – por grupos em que a quantidade de participantes divulgada é questionável e só parte da imagem com os manifestantes é mostrada;
  • Depoimentos “espontâneos” sobre assuntos polêmicos, em que se desconfia da espontaneidade dos entrevistados;
  • Notícias oriundas de fontes que, frequentemente, omitem ou distorcem outras visões, opiniões ou avaliações sobre um determinado acontecimento, e que podem indicar vieses, predileções e parcialidade;
  • Propaganda de produtos mencionando expressões como: “o preferido”, “o mais vendido”, “o produto líder de mercado” etc.;
  • Campanhas que mostram grandes números de adesão, que não podem ser conferidos pelo público em geral (audiência, expectadores, leitores, assinantes, contribuintes etc.);
  • Comentários que apresentam generalizações, sem apresentar comparações: “todos” (mas em que amostra?), muitos (mas comparado com o que?), sempre (de acordo com quem?) etc.

A Confirmação social é mais facilmente implantada e obtém mais êxito quando a situação envolve incerteza, ou seja, os indivíduos se sentem inseguros sobre qual é a melhor decisão a tomar, o assunto é novo ou o risco envolvido é considerável; bem como quando as pessoas consideradas na notícia têm características semelhantes às nossas (vivem nas mesmas regiões, são de classes sociais similares, vivem problemas parecidos etc.) [1].

Quando assistimos, ouvimos ou lemos tais situações, e muitas outras, precisamos desconfiar, fazer soar um ALARME em nossas mentes e parar o nosso Elefante interior (cérebro inconsciente): “Cuidado! Não siga no Piloto automático!” [1] [2].

O antídoto para esses casos relacionados acima é ativar o nosso Condutor interior (cérebro racional, consciente) e pesquisar melhor, verificar os números, fazer comparações, confirmar as fontes de informação e sua idoneidade, averiguar os erros já cometidos, eventuais tendências, vieses e parcialidade na divulgação das informações.

Se você treinar o seu cérebro para isso, terá muito mais chances de não ser enganado, nem de ser levado a avaliações e decisões equivocadas.

[1] CIALDINI, Robert B. “As armas da Persuasão: como influenciar e não se deixar influenciar“. Editora Sextante. 2012.

[2] DAFT, Richard. L. O executivo e o elefante: um guia de liderança para atingir a excelência interior. São Paulo: Novo Conceito. 2013.