Por Newton Rodrigues-Lima
O avanço da tecnologia possibilitou que os neurocientistas descobrissem como funciona o nosso cérebro, e esse conhecimento pode nos ajudar a viver melhor, decidir melhor, alcançar os resultados que queremos e, consequentemente, sermos mais felizes e realizados.
Para começar, eu vou apresentar brevemente como são as atividades mentais que dirigem o nosso cérebro e como elas impactam o nosso processo de escolha.
Nós possuímos dois sistemas em funcionamento no nosso cérebro: Sistema 1 e Sistema 2. Segundo o Psicólogo e Professor de Economia comportamental da Universidade de Princeton Daniel Kahneman [1], vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002 por suas descobertas, o Sistema 1 é rápido, intuitivo, inconsciente e emocional. Já o Sistema 2 é lento, racional, consciente e precisa de concentração para solucionar problemas e fazer escolhas. Se lhe facilitar, pense nesses sistemas como uma lebre (Sistema 1) e uma tartaruga (Sistema 2). Saber como funcionam é muito útil para tomarmos melhores decisões, seja na vida profissional, seja na pessoal.
O nosso Sistema 1 atua como um piloto automático, e na grande maioria das vezes tomamos decisões instantâneas utilizando este sistema. Segundo os neurocientistas, mais de 90% das nossas decisões no dia a dia são tomadas de maneira inconsciente e involuntária, pelo Sistema 1. Ele utiliza as experiências anteriores, que registramos na nossa memória, desde que nascemos, para tomar as decisões. Ele detecta ameaças, faz suposições, julgamentos rápidos, prioriza alternativas mais familiares, estereótipos, fatores emocionais e, com base nesses e em outros atributos, procura reconhecer o contexto, associar a algo já vivenciado e pronto: toma a decisão.
Já o Sistema 2 é acionado sempre que o problema requer análise mais apurada, avaliação e concentração para ser resolvido. Ao se deparar com um problema mais complexo, que requeira raciocínio, ele é acionado, pensa, avalia, e interage com o Sistema 1 para resolver, de maneira consciente, as situações. Ele precisa dedicar atenção para trabalhar.
Esses dois sistemas trabalham juntos. Na verdade, essa separação em Sistemas 1 e 2 não existe fisicamente. Foi um modelo criado para facilitar a nossa compreensão sobre como o nosso cérebro opera.
As decisões corporativas, por exemplo, deveriam ser em sua grande maioria racionais e conscientes. Entretanto, pesquisas realizadas por Marcelo Ferracciu, em sua tese de Mestrado em Business Administration [2], com executivos de empresas brasileiras em momentos de crise, constataram que mais de 50% das escolhas executivas são emocionais, sobretudo quando envolvem colaboradores.
O que fazer então para assegurarmos que vamos tomar nossas decisões de forma mais eficaz? O primeiro passo é sabermos da existência dos dois sistemas e como eles atuam.
Em muitas ocasiões, decidir rápido é essencial. Ao dirigir um automóvel, ao atravessar uma rua, ao aceitar ou não um convite de um desconhecido na rua, ao correr para se proteger da chuva, a rapidez é essencial. E o nosso Sistema 1 nos atende de forma magnífica.
Em outras situações, em que a decisão seja mais relevante, difícil, haja mais fatores e informações a considerar, devemos dedicar tempo, examinar com mais cautela, e priorizar a lógica em vez da velocidade.
Decisões financeiras, de investimentos, escolhas que envolvam grandes valores, que requeiram planejamento, cálculos e/ou contemplem a solução de problemas mais complicados devem ser tratadas e avaliadas pelo Sistema 2. Nessas circunstâncias, é essencial que você invista tempo para pensar, compreender a situação, identificar opções, avaliá-las e escolher. É incentivado também o uso de ferramentas, técnicas e métodos analíticos para apoio. Esse processo vai aumentar as chances de acerto e, consequentemente, reduzir os riscos de fazer opções erradas.
Tomar decisão é uma atividade difícil para todo ser humano, já que a escolha é feita em um instante e a consequência só é conhecida mais adiante. Entretanto, se torna uma oportunidade a medida que o processo decisório mais adequado é usado.
O que eu acabo de apresentar, já vai lhe dar muitas ideias sobre o que se passa, então, na sua cabeça, nas situações em que toma decisões. Nos próximos artigos vou abordar outras situações, relacionadas à nossa dificuldade de mudar, indicar caminhos para que você assuma o comando das suas decisões e ações e alcance os resultados que deseja na vida.
[1] KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
[2] FERRACCIU, Marcelo R. L. A relevância da inteligência emocional no processo decisório sob pressão de empresas em crise. Tese de Mestrado. Orlando, Florida, EUA. 2016.